Meu amigo Guguinha não tinha tamanho de gente. Eu como um zétoba, gostava de caçoar o seu tamanho, sua voz fanha e seu infortúnio com as mulheres. Ele ficava furioso.Todos notavam sua fúria quando o seu rosto se avermelhava frangindo a testa. Mas, de certava forma, eu acho que ele não se incomodava com isso. Minutos após seu ataque de nervos, quando nos víamos a sós, como de costume, não tinha nenhum comentário sobre as minhas traquinagens, nunca me retratei por elas. Geralmente ele chegava naquele ponto quando discutíamos sobre futebol, Guga levava muito a sério, ele conhecia todos os elencos e suas performasses, tanto de times nacionais como internacionais, com isso, não adiantava defender jogador por puro clubismo.
Nunca imaginei que iriamos brigar, apesar das minhas zombarias. Todos sabiam que eu as usava como um artificio para parar uma discussão chata e mudar de assunto, e que estas não passavam de breves palavras pejorativas acompanhadas de boas risadas. Eramos pacíficos.
Minha cabeça tem essa ideia, tudo nesse mundo é gozado.Por isso nos dávamos bem, pensávamos igual. A vida é engraçada. Ela não passa de uma piada. Não conseguíamos entender porque os homens encaram suas diferenças com guerras.Os seres humanos não passam de grandes palhaços contracenando em um circo gigante. Porque, então, não transformar as diferenças em gargalhadas? Porque raios um lúdico vai querer mais plateia que outro sendo que seus próprios apreciadores não
passam de meros jocosos coloridos?
Nos divertíamos, tentando entender porque alguns garotos brigavam pelos pátios, faziam parte de gangues, destruindo o resto da escola sucateada que estudávamos. Esses, junto com os figurões do planeta, a procura de mais plateia, transformam nosso circo numa tragedia, não passavam de palhaços infelizes.
Claro que nem tudo no mundo são rosas e gargalhadas, porque o homem não aceita sua condição de ator em palco. No meio de tanta confusão e desentendimento, o mundo e as pessoas, não vivem de gargalhadas e coisas tristes acontecem.Mas acredito que tudo tenha o propósito de Deus.Em instantes vou parecer contraditório, tente me entender, na verdade a forma que eu vejo o mundo é assim. Tudo que acontece numa vida é cômico e faz parte do proposito escrito pelo criador, então qualquer acontecimento é motivo de risada.Talvez até esse ponto não fui contraditório, mas muito vago e simples.Basta. Essa conversa pode ir muito além.Quero contar a vocês meus raros leitores,pois me cabe esse capitulo para isso, um pouco da minha vida e como fui acabar brigando com meu melhor amigo. Antes, pergunto: dois amigos brigando se pode levar a sério? Não depende em que condições e motivos?
Bom, sempre amei futebol, criamos um time para a quadra 13 e comecei com isso desde os 7 anos de idade. Participávamos de campeonatos e ganhávamos com frequência, o que acabou gerando uma tradição. Antes que vocês riam, eu usei o termo tradição para explicar de maneira simples que era um time vencedor. E essa palavra ficou tão forte e tão significante para nós que a colocamos no nosso hino do time. Sonhávamos alto, queríamos profissionalizar o clube. Já tínhamos uma diretoria, e estávamos prestes a criar uma especie de federação para promover campeonatos, já que a administração regional só organizava os torneios nas férias. Nossa cidade era pequena,mas o esporte era praticado por muitos, toda quadra tinha um time.Por volta dos nossos 14 anos, alguns garotos foram embora, outros preferiam largar a ir fumar, a jogar computador, e outros simplesmente se desinteressaram,se foram. Junto com isso foi embora o sonho de jogar contra as estrelas nacionais.Pra mim, estava claro que aquela ideia do Guga de profissionalizar, treinar todos os dias não ia dar certo. Mesmo assim nosso time continuava muito bom, bastava organizar uma pelada que ainda sim venceríamos.A base ainda era forte. Eu fui um dos criadores do grupo, tenho por mim que a camiseta e o nome dele vai ficar escrito na quadra 13.Mesmo que não seja profissional. Assim seria, o time ia continuar até nossa morte.
Durante essa crise em que muitos abandonaram a equipe, eu também me rebelei. Pensava em outras coisas naquela fase em que brigamos, queria participar de outra prática, outra competição.Sair com todas as garotas.Se é que existe competição nisso.Talvez sim, mas não quero entedia-lo com minhas filosofias de pouca profundidade. Isso sim é prazeroso, me dedicava a mim e não dependia de ninguém pra isso. Não precisava me estressar. Estava eu muito tranquilo, me saia bem com as mulheres, e por sorte quase todas tinham interesse por mim.Logo, gastava meu tempo em bater papo com elas e sair a sós com as que eu conquistava. Por conta disso não estava treinando tampouco jogando peladas. O Guguinha não aceitava, para ele eu tinha que ter comprometimento.
Eu argumentava que o time,nas vezes que não joguei, jogava completo, tínhamos reservas eles não deixaram de jogar por causa de mim. Eu estava saindo com a Livinha. Essa, gostava de me colocar contra o futebol, marcava de sair nos dias de jogo.Tenho quase certeza que fazia de propósito, era o diabo. Eu tentava dizer não, mas quando ela me jogava seu olhar, flamejante de cores azuis, eu não conseguia negar.Sentia um calafrio no corpo, nem em final de campeonato tive calafrios tão nervosos quanto os que me aparecem quando ela me olha daquele jeito.Sem duvidas era uma das mais lindas do colégio. Pra mim a beleza feminina já é uma coisa que vale a pena, e quando ela me disse o que pretendia fazer comigo... esqueci porra de futebol.
Justo nessa época o time da 15 recebeu um reforço, um garoto de outro estado que veio morar na nossa cidade. Ele dizia ser sobrinho do Thiaguinho jogador profissional do Corinthians. Na verdade, além de parecido o rapaz jogava muita bola.Para não bastar, o Iaguinho do nosso time, começou a fumar maconha, inventava de andar e jogar chapado. A diretoria do nosso time fez uma reunião, decidiu cortar temporariamente nosso camisa 10. Eu já estava na lista para ser o próximo. Fala serio, eu votei contra a ideia, falei do reforço da quadra 15, não adiantou,os manés cortaram nosso dez. Fiquei furioso, chamei o Iaguinho pra sair , disse pra ele que não devia ter sido assim, mas ele nem se importava , disse que não jogava bem igual antes e queria mesmo sair. Tentei convencer-lo de voltar,de ter uma conversa séria e acabar com esse lance bobo de diretoria, mas em vão. Pouco depois, a equipe da 15 marcou com nosso tradicional time valendo cem reais. Muita gente ficou sabendo,teria torcida e juiz. Livinha quando ficou sabendo, tramou o que me prometia a tempo. Justo na hora do jogo, ela e a Monica, na casa de seus pais que viajavam. Somente nós três, muito brigadeiro, morango e vodka. Não pude negar, menti a meus colegas que jogaria a partida, eu estava mesmo afim de jogar. Mas fui encontrar as meninas.
No outro dia o Guguinha veio na minha casa furioso, falando que nosso time perdeu de goleada. Eu estava com o sorriso de orelha a orelha chamando ele de baixinho e pedindo para relaxar. Engraçado que eu nem me sentia sacana por causa disso, só pedia pra ele se acalmar, que teríamos uma revanche. Não adiantava,ele gritava no meu ouvido, me apontava os dedos. Eu continuei caminhando para a padaria. Foi quando brigamos, ele tomou minha paciência, logo lembrei do Iaguinho que tinha saído do time, e dos outros que estavam fumando.Desabafei, disse que preferia mil vezes ficar com duas do que jogar uma partida apostada com uma equipe inferior. Não acredito que falaria aquilo se fosse em outra situação, mas saiu.Ele me chamou de maniaco, que descarado, como se ele também não preferisse.Ninguém tem uma oportunidade dessas sempre. Outra, eu não ia jogar bola para perder, duas mulheres de uma só vez é vitoria com taça. Lhe dei um empurrão pra ir embora , mas aquele pedaço de gente brigou comigo de verdade. O resto vocês já sabem, que o Guga já explico detalhadamente a briga.
Mas, não sei. Acho que ele tem ciúmes de mim com a Livinha, ele sempre foi caidão por ela.