sábado, 9 de abril de 2016

Notas dos autores

       Podemos perceber que a narrativa não tem dono, ora quem fala sou eu, o escritor, ora quem escreve é o Guguinha (que assim é chamado pelo Zé Toba), ora é o Zé Toba. É isso que faz a trans-universalidade da obra, é esse o diferencial e o potencial da história do Zé. Por isso aqui nasce a lenda do Zé Toba, personagem nunca citado antes na literatura. É tal obra onde o narrador é triplo e o protagonista é três. Durante o processo da leitura se confunde quem narra, se perde o leitor nos personagens, que quase não se dá conta de quem fala. Não se incomode leitor, isso é uma síndrome do mundo atual por isso tal obra não é deficiente e sim congruente. 

           Porém, eu como o escritor não posso ser cruel, tenho que tentar esclarecer certas coisas, apontar defeitos nas descrições dos mirins personagens-narradores, para que não se perca o leitor. Até agora não foi dito o nome do personagem que faz a narração do primeiro capitulo. Ele é chamado mais adiante por Guga pelo Zé Toba. Devo esclarecer também que Zé Toba não é um nome próprio, mas ele é toda a obra. Como já disse, tal nome é o verbo do texto. Por tanto peço que se acostumem com o nome Zé Toba. Talvez tenha sentido um dia, mas quem escreve deve adiantar que evite tentar encontra-lo, não se pode achar sentido aqui, já que, como dito Zé Toba é sobre-dimensional.
          Continuo tentando elucidar a narrativa para que não fique desgostosa ou irracional. Não há duvidas também na dicotomia dos jovens jogadores: um botafoguense, preocupado com seus sonhos onde em sua vida não há tempo para brincadeira, o outro flamenguista com uma síndrome filosófica buscando a razão. Paixão contra razão. Amor contra interrogação. Os times figuram as personalidades nesse paralelo. O Botafogo pequeno, mas corajoso e centrado. O Flamengo cheio de si, mas desinteressado usando da malícia para justificar más atitudes. 

       Não quero dizer que há uma inseparabilidade na identidade dos personagens com seus times. Ou pelo menos espero que não. Não quero que haja na interpretação uma batalha entre os dois, nem vencedor ou perdedor. Os dois jovens são vivos e tem cada qual com sua historia e sua dor.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Capitulo 3 : O zé toma uma decisão

   Meu amigo Guguinha não tinha tamanho de gente. Eu como um zétoba, gostava de caçoar o seu tamanho, sua voz fanha e seu infortúnio com as mulheres. Ele ficava furioso.Todos notavam sua fúria quando o seu rosto se avermelhava frangindo a testa. Mas, de certava forma, eu acho que ele não se incomodava com isso. Minutos após seu ataque de nervos, quando nos víamos a sós, como de costume, não tinha nenhum comentário sobre as minhas traquinagens, nunca me retratei por elas. Geralmente ele chegava naquele ponto quando discutíamos sobre futebol, Guga levava muito a sério, ele conhecia todos os elencos e suas performasses, tanto de times nacionais como internacionais, com isso, não adiantava defender jogador por puro clubismo. 


   Nunca imaginei que iriamos brigar, apesar das minhas zombarias. Todos sabiam que eu as usava como um artificio para parar uma discussão chata e mudar de assunto, e que estas não passavam de breves palavras pejorativas acompanhadas de boas risadas. Eramos pacíficos.
   Minha cabeça tem essa ideia, tudo nesse mundo é gozado.Por isso nos dávamos bem, pensávamos igual. A vida é engraçada. Ela não passa de uma piada. Não conseguíamos entender porque os homens encaram suas diferenças com guerras.Os seres humanos não passam de grandes palhaços contracenando em um circo gigante. Porque, então, não transformar as diferenças em gargalhadas? Porque raios um lúdico vai querer mais plateia que outro sendo que seus próprios apreciadores não
passam de meros jocosos coloridos? 

  Nos divertíamos, tentando entender porque alguns garotos brigavam pelos pátios, faziam parte de gangues, destruindo o resto da escola sucateada que estudávamos. Esses, junto com os figurões do planeta, a procura de mais plateia, transformam nosso circo numa tragedia, não passavam de palhaços infelizes.   

   Claro que nem tudo no mundo são rosas e gargalhadas, porque o homem não aceita sua condição de ator em palco. No meio de tanta confusão e desentendimento, o mundo e as pessoas, não vivem de gargalhadas e coisas tristes acontecem.Mas acredito que tudo tenha o propósito de Deus.Em instantes vou parecer contraditório, tente me entender, na verdade a forma que eu vejo o mundo é assim. Tudo que acontece numa vida é cômico e faz parte do proposito escrito pelo criador, então qualquer acontecimento é motivo de risada.Talvez até esse ponto não fui contraditório, mas muito vago e simples.Basta. Essa conversa pode ir muito além.Quero contar a vocês meus raros leitores,pois me cabe esse capitulo para isso, um pouco da minha vida e como fui acabar brigando com meu melhor amigo. Antes, pergunto: dois amigos brigando se pode levar a sério? Não depende em que condições e motivos?  

   Bom, sempre amei futebol, criamos um time para a quadra 13 e comecei com isso desde os 7 anos de idade. Participávamos de campeonatos e ganhávamos com frequência, o que acabou gerando uma tradição. Antes que vocês riam, eu usei o termo tradição para explicar de maneira simples que era um time vencedor. E essa palavra ficou tão forte e tão significante para nós que a colocamos no nosso hino do time. Sonhávamos alto, queríamos profissionalizar o clube. Já tínhamos uma diretoria, e estávamos prestes a criar uma especie de federação para promover campeonatos, já que a administração regional só organizava os torneios nas férias. Nossa cidade era pequena,mas o esporte era praticado por muitos, toda quadra tinha um time.Por volta dos nossos 14 anos, alguns garotos foram embora, outros preferiam largar a ir fumar, a jogar computador, e outros simplesmente se desinteressaram,se foram. Junto com isso foi embora o sonho de jogar contra as estrelas nacionais.Pra mim, estava claro que aquela ideia do Guga de profissionalizar, treinar todos os dias não ia dar certo. Mesmo assim nosso time continuava muito bom, bastava organizar uma pelada que ainda sim venceríamos.A base ainda era forte. Eu fui um dos criadores do grupo, tenho por mim que a camiseta e o nome dele vai ficar escrito na quadra 13.Mesmo que não seja profissional. Assim seria, o time ia continuar até nossa morte.
      Durante essa crise em que muitos abandonaram a equipe, eu também me rebelei. Pensava em outras coisas naquela fase em que brigamos, queria participar de outra prática, outra competição.Sair com todas as garotas.Se é que existe competição nisso.Talvez sim, mas não quero entedia-lo com minhas filosofias de pouca profundidade. Isso sim é prazeroso, me dedicava a mim e não dependia de ninguém pra isso. Não precisava me estressar. Estava eu muito tranquilo, me saia bem com as mulheres, e por sorte quase todas tinham interesse por mim.Logo, gastava meu tempo em bater papo com elas e sair a sós com as que eu conquistava. Por conta disso não estava treinando tampouco jogando peladas. O Guguinha não aceitava, para ele eu tinha que ter comprometimento.

  Eu argumentava que o time,nas vezes que não joguei, jogava completo, tínhamos reservas eles não deixaram de jogar por causa de mim. Eu estava saindo com a Livinha. Essa, gostava de me colocar contra o futebol, marcava de sair nos dias de jogo.Tenho quase certeza que fazia de propósito, era o diabo. Eu tentava dizer não, mas quando ela me jogava seu olhar, flamejante de cores azuis, eu não conseguia negar.Sentia um calafrio no corpo, nem em final de campeonato tive calafrios tão nervosos quanto os que me aparecem quando ela me olha daquele jeito.Sem duvidas era uma das mais lindas do colégio. Pra mim a beleza feminina já é uma coisa que vale a pena, e quando ela me disse o que pretendia fazer comigo... esqueci porra de futebol.


Justo nessa época o time da 15 recebeu um reforço, um garoto de outro estado que veio morar na nossa cidade. Ele dizia ser sobrinho do Thiaguinho jogador profissional do Corinthians. Na verdade, além de parecido o rapaz jogava muita bola.Para não bastar, o Iaguinho do nosso time, começou a fumar maconha, inventava de andar e jogar chapado. A diretoria do nosso time fez uma reunião, decidiu cortar temporariamente nosso camisa 10. Eu já estava na lista para ser o próximo. Fala serio, eu votei contra a ideia, falei do reforço da quadra 15, não adiantou,os manés cortaram nosso dez. Fiquei furioso, chamei o Iaguinho pra sair , disse pra ele que não devia ter sido assim, mas ele nem se importava , disse que não jogava bem igual antes e queria mesmo sair. Tentei convencer-lo de voltar,de ter uma conversa séria e acabar com esse lance bobo de diretoria, mas em vão. Pouco depois, a equipe da 15 marcou com nosso tradicional time valendo cem reais. Muita gente ficou sabendo,teria torcida e juiz. Livinha quando ficou sabendo, tramou o que me prometia a tempo. Justo na hora do jogo, ela e a Monica, na casa de seus pais que viajavam. Somente nós três, muito brigadeiro, morango e vodka. Não pude negar, menti a meus colegas que jogaria a partida, eu estava mesmo afim de jogar. Mas fui encontrar as meninas. 
  No outro dia o Guguinha veio na minha casa furioso, falando que nosso time perdeu de goleada. Eu estava com o sorriso de orelha a orelha chamando ele de baixinho e pedindo para relaxar. Engraçado que eu nem me sentia sacana por causa disso, só pedia pra ele se acalmar, que teríamos uma revanche. Não adiantava,ele gritava no meu ouvido, me apontava os dedos. Eu continuei caminhando para a padaria. Foi quando brigamos, ele tomou minha paciência, logo lembrei do Iaguinho que tinha saído do time, e dos outros que estavam fumando.Desabafei, disse que preferia mil vezes ficar com duas do que jogar uma partida apostada com uma equipe inferior. Não acredito que falaria aquilo se fosse em outra situação, mas saiu.Ele me chamou de maniaco, que descarado, como se ele também não preferisse.Ninguém tem uma oportunidade dessas sempre. Outra, eu não ia jogar bola para perder, duas mulheres de uma só vez é vitoria com taça. Lhe dei um empurrão pra ir embora , mas aquele pedaço de gente brigou comigo de verdade. O resto vocês já sabem, que o Guga já explico detalhadamente a briga.

Mas, não sei. Acho que ele tem ciúmes de mim com a Livinha, ele sempre foi caidão por ela. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Capitulo 2 : O zé se explicará

Antes, faço um aviso : Vai chegar o momento em que nosso amigo Zé vai ter a oportunidade de fazer sua própria narração.
           Vou descrever suas características: Belo,todos o admirava . Me lembro quando ele fez sucesso com as meninas na quarta serie. Elas, fizeram um concurso as escondias para saber quem era o mais bonito da sala.Por algum motivo a eleição foi revelada. Ele ganhou com muitos votos de diferença do segundo colocado. Sempre ganhava elogios do mais velhos também.Senhoras diziam que se congelariam para poder beija-lo quando adulto. 
           Certa época, Zé Toba beija uma menina diferente por dia. Um absurdo, para rapaz um meio introvertido e discreto. Tinha um estilo básico, não usava roupas coloridas e seu corte de cabelo era sempre o mesmo, curto militar. De qualquer forma, as garotas quase pediam para lhe beijar. Ele não achava ruim, beijava até as consideradas feias. Gostava de filosofar com elas. Principalmente quando conseguia levar-las para a cama. Falava sobre a existência do amor, sobre a beleza do interior e lhes acariciava incessantemente. Segundo ele, esse era o segredo para manter aquele grande número de garotas ao seus pés. 
          Enfim, eu era um rapaz feio, nem tinha despertado meu libido sexual nesses tempos. Me incomodei de veras com a falta de tempo que ele tinha comigo. Só vivia com as mulheres, esqueceu dos seus compromissos. Estava anestesiado, enfeitiçado. Inserido nesse mundo de sucesso com o gênero feminino. Não participava mais dos amistosos contra o pessoal da 13. Ele era nosso camisa 9, o homem-gol . O time estava sentindo a sua falta. Eu como melhor amigo, me vi forçado cobrar a atenção dele com o nosso time.Essa falta de interesse com o futebol, sua indiferença comigo fez com que tivéssemos uma discussão que nos levou a uma briga. 
         Você tinha que ver a reação dele quando o chamei de maníaco. Nosso astro foi explosivo.Gritava para eu me calara enquanto batia no peito dizendo que fazia o que bem queria.Tivemos uma discussão branda em relação a seu desinteresse com a equipe. Falei que todos se incomodavam com o afastamento dele com o grupo da quadra. Ele não quis me dar ouvidos, e quando apelei lhe soltei aquele insulto, dessa forma entramos na briga. De primeira me deu um empurrão; O zé era maior, a força que usou me levou ao chão. Quando levantei ele estava virando para partir. Eu corri e o agarrei pelo pescoço, mais não resisti muito tempo, logo ele se soltou. Ficamos frente a frente novamente. Começamos com trocas de socos, depois ele começou a usar as pernas. Era uma briga atrapalhada, os murros eram jogados ao ar quase sem direção. Não existia uma briga técnica, só ódio protagonizando uma batalha desorganizada. Mas, pareceu que a raiva do meu querido era maior. Ele conseguiu me acertar no queixo. Perdi a consciência em alguns segundos. Quando dei por mim estava no chão com a vista embaçada com as imagens girando. O zé esperou eu me levantar. Vendo que eu estava bem, saiu e me deixou só. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Capitulo 1º : Quando conheci o zé

Meu grande amigo Zé Toba, companheiro desde de criança. O conheci quando pequeno, pela amizade dos nossos pais. Até hoje me lembro do nosso primeiro contato. Confesso que não tive um primeiro julgamento ou impressão. Também era menino de 7 anos a mesma idade dele. Garoto dessa idade não faz julgamento ou se eu o fiz, esqueci. Minha mãe que estava a meu lado, fez a apresentação :
- Esse aí e o zé toba filho do Guga! Vai jogar bola com ele no quintal! - Estávamos em minha casa, recordo que era um casarão, tinha um gramado bem feitinho nos fundos. Esse gramado era muito cuidado pelo meu pai, tinha o tamanho de uma quadra de futsal.Nele, eu jogava golzinho com os colegas da rua, sempre fui habilidoso e o futebol era meu principal entretenimento. Dessa forma, gostei da ideia de minha mãe. Também não iria desobedece-la. Então chamei o zé,acenando com a cabeça :
- Bora lá? - O Zé olhou para os fundos, olhou pra mim parecendo querer dizer algo, mais concordou acenando a cabeça. Chegamos no campo e começou o bate-bola. No principio, tocávamos a bola um para o outro sem nenhuma conversa. Depois, fiquei inquieto com a monotonia e lhe propus um desafio :
- Vamô jogar contra , nos golzinhos? - As travinhas estavam distantes, ele pensou mais um pouco e comentou:
 - Tem que diminuir o espaço do campo, né?! - Daí respondi sem titubear:
- Claro, vamos até 10 gols beleza ?
- Tá valendo, eu sou o Garrincha do Botafogo.
- Sou o Zico , do Flamengo!
Não tinha importância essa rivalidade, nem fizemos cara de asco ou comentários após isso. O jogo começou com todas as regras esclarecidas. Eu jogava com mais sabedoria, tinha mais conhecimento de campo e fintas. Em pouco tempo eu ganhava de lavada. Mas, antes da minha vitoria, ele melhorou surpreendentemente. Fez uns golaços, que ficaram gravados. Um desses, ele me deu duas canetas seguidas antes de marcar.O outro não sei como, me laçou um chapéu e chutou de primeira.
      Depois do jogo, conversamos sobre os grandes craques, motivo da escolha dos times. Lembro pouco dessa conversa, mas, a partir desse dia começamos a nos ver mais vezes. O motivo foi que ele virou nosso vizinho.O Guga, amigo de meus pais matriculou o Zé na mesma escola onde eu estudava. Viramos companheiros de classe e de time na escola.Nos tornamos amigos de carne e unha.Depois de vários anos, tive algumas conclusões dele: tomava poucas decisões na vida.Isso refletia no seu futebol.Pensava muito antes de agir, antes de tomar alguma conclusão ele parava por completo.

Préfacio

Começa aqui a historia de uma novela. Mes amis, é o inicio e fim de uma era.Um conto, um filme de um astro. No seu último milênio, após 90 de existência. Essa estrela passa pela sua última metamorfose. Após ter alcançado a sabedoria máxima do seu ser.Tendo pois, a noção que está próximo o fim de seu ciclo sem volta. A luz das nossas alegrias, o nosso amigo fiel, diversão nos momentos de ócio com seu sorriso contagiante : Zé Toba, fará a narração de sua alma, deixando para seus companheiros e companheiras sua marca na historia.Sua pretensão,antes de sumir na eternidade - como uma explosão estrelar - é deixar claro o motivo de todas as suas atitudes. Junto com isso, uma lembrança para as pessoas que o acompanhava. Aproveitem leitores, pois um espirito secular vai abrir a porta de seu mundo. Lhes confesso: é controverso, intrigante e até melancólico.